Uma alteração no processo de concessão de green cards feita pelo governo Biden em 2023 está colocando em risco a permanência de milhares de líderes religiosos estrangeiros nos Estados Unidos. A medida, que passou a incluir menores vítimas de abuso na mesma fila de espera dos trabalhadores religiosos para o visto EB-4, gerou um acúmulo de pedidos e atrasou significativamente o processo de regularização desses profissionais.
Muitos padres, pastores, freiras e outros trabalhadores religiosos vêm ao país com o visto R-1, válido por até cinco anos. Após esse período, eles precisam retornar ao país de origem caso não tenham obtido o green card. Antes da mudança, o tempo de espera para o visto EB-4 — que garante residência permanente — era mais curto, mas agora, com o novo volume de solicitações, a fila aumentou, segundo a Associated Press.
A situação tem afetado comunidades religiosas em todo o território americano, levando parlamentares a propor uma solução legislativa. Em abril, o senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, apresentou o projeto de lei Religious Workforce Protection Act (RWPA), que permitiria aos trabalhadores religiosos permanecerem nos EUA além dos cinco anos do visto R-1 enquanto aguardam a análise de seus pedidos de green card.
O projeto conta com apoio bipartidário, incluindo os senadores republicanos Susan Collins, do Maine, e Jim Risch, de Idaho. Uma proposta semelhante também foi apresentada na Câmara dos Deputados.
Kaine afirmou que a iniciativa surgiu após ouvir relatos de igrejas em sua paróquia em Richmond que estavam perdendo seus sacerdotes. “Mas, como descobrimos, esse problema não é exclusivo da Virgínia — está afetando congregações religiosas de diversas crenças em todo o país”, declarou em abril.
A mudança feita pela administração Biden, em março de 2023, unificou a fila de processamento do visto EB-4 — antes exclusiva para trabalhadores religiosos e outros grupos específicos — com a de menores vulneráveis da América Central, que anteriormente era tratada separadamente. Muitos desses casos estavam mal classificados há sete anos, o que contribuiu para o acúmulo atual.
O visto EB-4 é destinado a grupos imigrantes específicos, como trabalhadores religiosos e certos profissionais de mídia. No entanto, o número de vistos disponíveis por ano é limitado a cerca de 10 mil, e nem todos são destinados à categoria religiosa. Em fevereiro, o Departamento de Estado anunciou que o limite para o ano fiscal de 2025 já havia sido atingido.
A senadora Susan Collins destacou os impactos diretos da situação em seu estado. “Quando as paróquias do Maine onde frequento a missa começaram a perder seus padres, percebi que isso estava criando uma crise real. Recentemente, três paróquias católicas em áreas rurais — Saint Agatha, Bucksport e Greenville — ficaram meses sem padres porque seus vistos R-1 expiraram enquanto os pedidos de EB-4 ainda estavam pendentes”, afirmou em comunicado de abril. “Nosso projeto ajudaria trabalhadores religiosos de todas as tradições a continuar vivendo e servindo nos EUA enquanto seus pedidos de residência permanente são analisados.”
A Catholic Legal Immigration Network Inc. também manifestou apoio à proposta, afirmando em julho que o RWPA é uma legislação “curta, mas de grande impacto”. A organização destacou que o projeto permitiria a renovação do status R-1 para quem já teve o formulário I-360 aprovado, evitando que muitos fossem obrigados a deixar suas comunidades e passar um ano fora do país antes de solicitar novo visto.
Atualmente, os projetos de lei aguardam análise nas comissões do Senado e da Câmara. Enquanto isso, líderes religiosos estrangeiros seguem enfrentando incertezas quanto à sua permanência nos Estados Unidos, e comunidades de fé acompanham de perto os desdobramentos legislativos.
Fonte: Newsweek
Por Andrew Stanton – Newsweek